69
Como identificar uma relação de abuso
Frequentemente, o domínio é exercido por alguma vantagem que uma das partes tem
sobre a outra, como condição financeira, por exemplo. “Uma pessoa pode se sentir su-
perior às outras por ter mais dinheiro. Com os amigos, ela acha que pode determinar os
programas que vão fazer. Com a mulher, ou com o marido, a pessoa se sente no direito
de fazer tudo do seu jeito, inclusive em relação à educação dos filhos, já que ela ‘banca a
família’”, explica a psicóloga.
Segundo ela, esse tipo de relação resulta também na humilhação em público. Exemplo
disso é a postura de reprovação da pessoa “abusadora”, quando a “abusada” expressa
suas ideias durante um encontro entre amigos ou familiares. “Ao notar que o outro não
gostou, a pessoa se sente intimidada, envergonhada, acaba se calando e ficando apáti-
ca. Pior: muitas vezes, a parte que teme desagradar insiste em querer justificar a todos o
comportamento do outro”, diz Marcia Dolores.
Comodismo ou medo?
Quem passa por esses abusos, muitas vezes, “finge” já ter se acostumado, e prefere con-
tinuar do jeito que está do que enfrentar os desafios que virão pela frente. “Essa acomo-
dação pode estar relacionada à própria personalidade da pessoa, alguém que frequente-
mente se sente frágil e, mesmo sendo abusada, se sente protegida pelo outro. Daí, cria-se
uma relação simbiótica, na qual um depende emocionalmente do outro, formalizando
um processo de desrespeito e submissão, que é alimentado continuamente”.
Como sair de uma relação de co-dependência
Em alguns casos, a situação pode chegar a extremos de agressão verbal e/ou física, o que
passa, então, a demandar uma mudança comportamental urgente. A abordagem des-
sa relação abusiva requer que ambos se disponham a buscar tratamento psicoterápico,
visando a ruptura da relação simbiótica e a busca de equidade e equilíbrio. Para isso, é
preciso primeiro reconhecer que é parte de uma relação de abuso. “A partir do momento
em que a pessoa consegue ter consciência da sua realidade e que precisa se libertar da
visão que tem sobre amor e respeito, fica mais fácil trabalhar essa distorção em terapia,
conseguindo resgatar sua integridade física, moral e psicológica”, finaliza Marcia Dolores
Resende.